Às vezes nada é como pensávamos que fosse.
Na verdade quase sempre as coisas são diferentes do que
esperamos, mas às vezes essa constatação é bem dolorosa. Especialmente quando
percebemos que sacrificamos muito por nada. O prêmio não virá. O reconhecimento
não virá. Seu nome não ficará no livro dourado de Deus. O de seu adversário não
irá pro inferno, vingando seu sofrimento. Não, nada será como você esperava e o
sofrimento dos dias perdidos, do corpo maltratado, não será recompensado.
Criamos laços com o caminho de sofrimento que escolhemos
acreditando que seria o certo, que seria o bom, o justo e que alimentaria nosso
desejo infantil de reconhecimento externo, de vingança e de comiseração alheia.
E quando, após amadurecermos, percebemos que fizemos as escolhas movidos pelas
motivações erradas, nem sempre temos coragem de reconhecer.
O pai perdoou a irmã mais nova que engravidou antes de casar
e esqueceu o namoro que você terminou a contragosto. A mãe não sobreviveu para
ver o brilhante advogado que você se tornou depois de tristemente abandonar o
teatro. A sociedade não liga mais pro seu grande amor homossexual e de fato ele
casou com outra pessoa enquanto você está envelhece sozinho. A igreja não é
mais tão rigorosa, as sobrancelhas finíssimas saíram de moda e o black power
voltou depois que seu cabelo não cacheia mais. Aquele amigo que filava aula é
seu chefe e ganha mais que você.
E você não tem muita coragem para perguntar o que aconteceu.
E perde a fé em Deus e na justiça, e deprime e faz muxoxo com a rotina e com a
vida. A vida que você escolheu. E, na melhor das hipóteses, pode ter dito
internamente “agora vai TER que ser assim” e sobrevive forçando uma barra na direção do que não te
traz satisfação e felicidade. Muitas vezes criticando ou rejeitando aquelas
pessoas que desconfortavelmente passam sendo felizes, “transgredindo”
ousadamente diante dos seus olhos.
Não... isso nada tem a ver com Deus ou com Justiça. Tem mais
a ver com coragem e auto responsabilidade. Coragem para ser adulto e fazer o
que se quer, assumindo as consequências pelos seus atos. E ter sinceridade para
olhar para si e saber que o que realmente lhe faz feliz pode não ser
convenientemente adequado ao seu sonho infantil de aceitação incondicional,
glorificação e pertencimento. Nem sempre se nasce cisne. Às vezes o cisne tem
que viver uma vida de patinho escorraçado para encontrar seu verdadeiro lugar
no lago.
(Nota: eu estou escrevendo para “você”, mas muitas destas
descobertas são muito pessoais, além de terapêuticas)
Muitos dos personagens a quem fazemos reverência na
juventude para escolher os caminhos que consomem
anos dolorosos de nossa vida não permanecem ao nosso lado para tirar os
espinhos dos nossos pés. Eles morrem, partem ou mudam e esquecem as opiniões
que tinham antes. E você dorme sozinho com as dores nas costas, com a gastrite,
com as enxaquecas, com o parceiro errado, sonhando com os problemas do trabalho
para o qual você não gostaria de ter que voltar.
Então tudo está perdido? Claro que não. 30 anos, 10 anos, 1
ano, 1 dia que lhe reste de felicidade genuína é capaz de fazer tudo valer a
pena. Felicidade genuína. Aquela que transcende as opiniões e dogmas e fazem
referência ao Deus verdadeiro, autêntico, e misericordioso que existe dentro de
você. Basta um filho que testemunhe este novo e verdadeiro “você” e que aprenda
que a felicidade é real e é possível, e que depois talvez tenha filhos e
netos... e uma geração inteira poderá ser libertada.
Peço-lhe apena uma semana com seu verdadeiro eu, produtivo,
criativo, amoroso e feliz. Nunca mais você será o mesmo. Um passo de coragem e
um olhar humilde e sincero para si mesmo. Um último mergulho intenso na dor, na
dor do tempo perdido, da culpa pelas injustiças cometidas, na raiva por não ter
se respeitado... para então abandonar o desvio para sempre e recomeçar. Com uma
oportunidade real e genuína de ser você, de ser feliz.
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