sábado, 1 de outubro de 2016

Quando olhar para a felicidade dói

Às vezes nada é como pensávamos que fosse.

Na verdade quase sempre as coisas são diferentes do que esperamos, mas às vezes essa constatação é bem dolorosa. Especialmente quando percebemos que sacrificamos muito por nada. O prêmio não virá. O reconhecimento não virá. Seu nome não ficará no livro dourado de Deus. O de seu adversário não irá pro inferno, vingando seu sofrimento. Não, nada será como você esperava e o sofrimento dos dias perdidos, do corpo maltratado, não será recompensado.


Criamos laços com o caminho de sofrimento que escolhemos acreditando que seria o certo, que seria o bom, o justo e que alimentaria nosso desejo infantil de reconhecimento externo, de vingança e de comiseração alheia. E quando, após amadurecermos, percebemos que fizemos as escolhas movidos pelas motivações erradas, nem sempre temos coragem de reconhecer.

O pai perdoou a irmã mais nova que engravidou antes de casar e esqueceu o namoro que você terminou a contragosto. A mãe não sobreviveu para ver o brilhante advogado que você se tornou depois de tristemente abandonar o teatro. A sociedade não liga mais pro seu grande amor homossexual e de fato ele casou com outra pessoa enquanto você está envelhece sozinho. A igreja não é mais tão rigorosa, as sobrancelhas finíssimas saíram de moda e o black power voltou depois que seu cabelo não cacheia mais. Aquele amigo que filava aula é seu chefe e ganha mais que você.

E você não tem muita coragem para perguntar o que aconteceu. E perde a fé em Deus e na justiça, e deprime e faz muxoxo com a rotina e com a vida. A vida que você escolheu. E, na melhor das hipóteses, pode ter dito internamente “agora vai TER que ser assim” e sobrevive  forçando uma barra na direção do que não te traz satisfação e felicidade. Muitas vezes criticando ou rejeitando aquelas pessoas que desconfortavelmente passam sendo felizes, “transgredindo” ousadamente diante dos seus olhos.

Não... isso nada tem a ver com Deus ou com Justiça. Tem mais a ver com coragem e auto responsabilidade. Coragem para ser adulto e fazer o que se quer, assumindo as consequências pelos seus atos. E ter sinceridade para olhar para si e saber que o que realmente lhe faz feliz pode não ser convenientemente adequado ao seu sonho infantil de aceitação incondicional, glorificação e pertencimento. Nem sempre se nasce cisne. Às vezes o cisne tem que viver uma vida de patinho escorraçado para encontrar seu verdadeiro lugar no lago.

(Nota: eu estou escrevendo para “você”, mas muitas destas descobertas são muito pessoais, além de terapêuticas)

Muitos dos personagens a quem fazemos reverência na juventude para escolher os  caminhos que consomem anos dolorosos de nossa vida não permanecem ao nosso lado para tirar os espinhos dos nossos pés. Eles morrem, partem ou mudam e esquecem as opiniões que tinham antes. E você dorme sozinho com as dores nas costas, com a gastrite, com as enxaquecas, com o parceiro errado, sonhando com os problemas do trabalho para o qual você não gostaria de ter que voltar.

Então tudo está perdido? Claro que não. 30 anos, 10 anos, 1 ano, 1 dia que lhe reste de felicidade genuína é capaz de fazer tudo valer a pena. Felicidade genuína. Aquela que transcende as opiniões e dogmas e fazem referência ao Deus verdadeiro, autêntico, e misericordioso que existe dentro de você. Basta um filho que testemunhe este novo e verdadeiro “você” e que aprenda que a felicidade é real e é possível, e que depois talvez tenha filhos e netos... e uma geração inteira poderá ser libertada.


Peço-lhe apena uma semana com seu verdadeiro eu, produtivo, criativo, amoroso e feliz. Nunca mais você será o mesmo. Um passo de coragem e um olhar humilde e sincero para si mesmo. Um último mergulho intenso na dor, na dor do tempo perdido, da culpa pelas injustiças cometidas, na raiva por não ter se respeitado... para então abandonar o desvio para sempre e recomeçar. Com uma oportunidade real e genuína de ser você, de ser feliz.

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