Frequentemente me perguntava como me liberar das influências nocivas das expectativas. A expectativa ou antecipação nos tira do presente e nos coloca num modo de percepção comparativa da realidade, em que acabamos por nos concentrar mais no que falta na realidade em relação ao nosso desejo do que simplesmente perceber as coisas como são, com benefícios e prejuízos por elas mesmas. Os relacionamentos ficam mais amargos quando esperamos receber do outro um tratamento idealizado, fora do que ele é capaz de dar. Isto pode acontecer em qualquer tipo de relação. A expectativa em relação ao outro também atrapalha a realização dos nossos objetivos, já que muitas vezes esperamos que uma série de pré-requisitos externos se realizem para ter nossa satisfação pessoal garantida. Abrimos mão do nosso poder em detrimento do poder (ou da falta de) do outro.
Enfim, expectativa sempre atrapalha um pouco e produz ansiedade. E portanto era uma reflexão antiga minha. Mas, recentemente, após estudar a vida de alguns missionários - como Madre Tereza de Calcutá – observei que o estado de graça e contentamento vinham de um sentimento de se dedicar a uma causa com uma responsabilidade e um voluntariado que os colocavam na posição de “estar ali pro que desse e viesse”. Eles simplesmente escolhem levar a vida como um voluntário permanentemente a serviço e se alegram com toda ajuda que recebem, já que realizariam suas obras de qualquer forma, mesmo sozinhos.
O sentimento de ser voluntário inclui a percepção de estar servindo a alguém maior dentro das condições e limites que lhe são apresentados. Faz-se o máximo que se pode, mas somente o que se é possível fazer com os recursos que lhe são oferecidos. O voluntário faz parte de uma organização maior que solicita a ajuda e se alegra com a ajuda que foi dada, reconhecendo que o voluntário sozinho não tem condições para dar conta de todo o trabalho que há para ser feito com a perfeição de um profissional. O voluntário é limitado e amoroso, por isso trabalha de graça e se alegra simplesmente por fazer parte de uma causa nobre e colocar a disposição as forças e qualidades de que dispõe, mesmo que poucas ou incompletas.
Essa reflexão e, posteriormente, esta postura diante da vida mudou meu sentir completamente. É verdade que, somente agora, com certo grau de conforto emocional, pude alcançar com profundidade esta teoria tão velha e clichê: “abandone as expectativas”, “não julgue” etc. Afinal é difícil para alguém desnutrido ou doente se tornar um voluntário em uma causa quando ele mesmo precisa de ajuda. Mas, ao mesmo tempo, estamos sempre precisando ser salvos em algum setor, enquanto que em outros somos abundantes de recursos. Então o espírito voluntário pode ser abraçado por todos nós.
No meu caso pessoal, eu precisava abandonar a crítica exagerada nos relacionamentos interpessoais e ter mais espaço mental e emocional para ver o outro pelo que ele é, do jeitinho fofo e amoroso que fazia com meus clientes em consultório rsrs... e o espírito voluntário funcionou bem.
Funciona por que não é pelo outro, é pela Causa e a serviço da Organização Maior. Funciona por que nesse contexto não cabe questionar os recursos. Todo mundo sabe que é necessário de alguma forma e que o outro que está sendo atendido está ferido e precisa de ajuda. O voluntário também sabe deixar o posto quando é dispensado. Ele não obriga o outro a receber sua ajuda. Ele automaticamente procura saber se há outro serviço a ser feito ou se beneficia alegremente do momento de descanso.
O espírito voluntário funcionou para mim e, acredito eu, para missionários, obreiros, voluntários e santos por que desvinculou a mente de “qual o problema” e reconectou com o “como posso ajudar”. E isso faz toda diferença no desejo de fazer o que é certo, na capacidade de perdoar e amar, na condição de Ser Feliz.
Espero que essa visão lhe possa ser útil em sua caminhada nas relações com o outro, com a família, com o seu trabalho e com o mundo.
Vida viva para todos!
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